terça-feira, 16 de novembro de 2010

A BANDEIRINHA DE PARATY.



“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”

Amyr Klink


Se existir um lugar que eu chamaria de paraíso na terra, além da minha casa, obviamente, este lugar chamaria PARATY. Ehhhhhhhhhhhhhhhhhh lugarzinho maravilhoso! Não consigo explicar o quanto e porque a energia deste lugar me agrada tanto, mas, tudo lá é especial! Tudo tem um outro gosto, até os doces vendidos na rua (aiaiai, aquele bolo de tapioca), a cerveja gelada dos botecos estilosos, o café dos lugarzinhos fofos que misturam sofisticação, história , maresia e simplicidade. Andar nas ruas do centro histórico de Paraty depois das 17 horas, depois de mergulhos nas suas águas deliciosas é incrível! Continuar andando no centro histórico sem horas para terminar e na praça ver uma roda de capoeira animadíssima, afe, sem explicação…

A primeira vez que ouvi sobre Paraty, foi ao saber da existência de Amyr Klink, devia ter meus 16 anos ávida por experiencias, por colocar em prática os sonhos da juventude, para conquistar os mundos e conheci meu herói, Amyr…

Amyr é de Paraty, ama Paraty e a maneira como descreve a cidade é encantador e nos faz amar também sua origem e nesta forma, de compartilhar de vidas com nossos heróis da juventude, também queria sentir Paraty, ver a cidade na sua descrição das vezes que saiu de lá com seu barco para explorar o mundo!

Li "Parati, entre dois polos" e quando terminei, reli. Entre tanto e tudo que me marcou no livro, o fim que li entre lágrimas nunca mais me fez esquecer a imagem que não vivi, que não vi, mas, que levo para minha vida nas situações mais difíceis e extremas.

Diz Amyr que ao chegar em Paraty depois de ter conquistado a Antártica, vivido imensas dificuldades, aventuras e momentos emocionantes. Depois de ter vencido o medo, a solidão, a primeira coisa que ele avistou foi uma bandeirinha na marina. A mesma bandeirinha de quando partiu da cidade. Ela continuava lá, trepidante ao sol da cidade a esperar ou talvez não a espera-lo, mas, somente a manter sua função de bandeirinha…

Ele depois de tanto o que rodou por este mundão….. encontra a bandeirinha no mesmo lugar…..

Nossa, como chorei quando li isto no livro… Como não esqueço disto…. Como lembro disto…. Como não esqueço a bandeirinha de Paraty…..

Não e nunca quero ser a bandeira de Paraty a ficar parada ao vento a esperar que a vida aconteça para todos, menos para mim. Ao mesmo tempo, a bandeira de Paraty, é a referência que nunca devemos perder na vida, ter sempre para onde voltar, ter sempre porque e para quem lutar…

A bandeira de Paraty é a vida que continua… É a certeza que o mundo não para por causa das nossas decisões, das nossas dificuldades, que o mundo não para, mesmo quando você para nele ou, o tempo continua na sua velocidade, mesmo você querendo ser mais rápida, mais lenta ou mais intensa…. A vida sempre continua, mesmo você a vivendo pelas metades ou inconsequentemente ou forçadamente tenha que lutar pela sua vida em um tempo diferente do comum as outras pessoas. O tempo nunca para, a vida sempre continua, até você voltar...

Pulei de volta para a vida, ancorei meu barco no porto, minha aventura não foi na Antártica, mas, me sinto uma heroína como Amyr, a vencer ondas enormes e capturar em minhas retinas e coração momentos inesquecíveis e felizes dentro da aventura.

Mas, a bandeira tá ali, a me avisar que a vida continuou….. a vida continua.

Espero logo e sempre o mais breve possível voltar para Paraty, me aguarde que quando voltar não quero dormir, não quero parar, não quero descanso, quero viver loucamente cada minuto deste lugar incrível que se chama , VIDA!


Com vocês, Vanessa da Matta, ao vivo na praça de Paraty, lindo e emocionante....




quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Buuuuuuuuuuuuuuuu!

GUSTAVO, LUTADOR, VENCEDOR, ETERNO...
Comecei a usar a internet como rede de comunicação a mais de 10 anos. Neste período fiz muitos amigos! Era e ainda é uma maneira de não isolar esta minha cabeça que gira loucamente 180 graus a 300 km/hr nesta cidade do interior tão pequena, pacata, deliciosa, mas, limitada.
Tenho amigos virtuais de 10 anos… assim, como tenho um amigo de correspondência a quase 20 anos. Sempre gostei! Acho que faz parte do meu gosto pela escrita, escrever cartas enormes, emails, sem contar, as trocas de afinidades em música, literatura e coisas/ lugares que talvez nunca conheça pessoalmente, mas, compartilho com amigos virtuais que muitos, nunca irei ver pessoalmente….

Por um tempo, ou ainda nos clichezinhos virtuais por aí, se disse que a internet afasta as pessoas. Nunca me senti assim. Sinto-me próximas a pessoas que nunca conheceria ao vivo e aumento minha probabilidade e conhecer pessoas mundão afora e mantê-las próximas.

Um abraço. Um longo abraço. Apertado. É isto que sinto vontade dar em meus amigos virtuais que conheci através deste blog e de todas as andanças virtuais por este mundo das quimios… E sim, este desejo por um contato físico afetivo as vezes dói deveras.

Ontem, este desejo por algo tão simples, apertou tanto até as lágrimas, ao desespero, a frustração e ainda dói por hoje e talvez por quantas vezes que lembrar deste grandão aí da foto!
Gustavo, este é o nome dele. O conheci através de um chat sobre “quimioterapia” a mais de um ano. Ele é o querido de todos, o humor inteligente, o silencio, a ponderação , a fé em sua prática cristã, uma ética admirável de filho e amigo e uma força inteligente na luta de reincidivas seguidas desta doença maldita.

Gustavo, no não conformismo de termos apenas contato virtual, formulou uma kombi maluca e psicodélica que sairia de João Pessoa a pegar todos os amigos virtuais pelo caminho até chegar onde? Onde Gustavo? Onde chegaríamosssssssssssssssssssss? Não me lembro….. Não me lembro querido Gustavo onde chegaríamos com esta Kombi doida da pega!

E você desde de ontem… não está mais aqui para nos lembrar… para nos mostrar o caminho e para nos ensinar como é que se luta dignamente pela vida!

Senti muito tudo pelo Gustavo. E admirei todos os minutos a maneira que este menino extraordinário lutou contra esta doença maldita que o levou. Cabeça sempre erguida, usando sempre sua racionalidade e inteligência, mas, também sua FÉ, em Deus, na vida, na sua família e nos seus amigos.

Doí, não poder dar em Gustavo nesta vida o abraço da compensação pelos meses virtuais. Doí saber que não poderei abraça-lo………

Tenho orgulho por ter conhecido este meninão paraibano arretado, muito, mais muito, mais muitooooooooo mais forte que rock Balboa.

Gu, vai com Deus…. vai na fé e obrigada por ter ensinado tanta gente a maneira de lutar pela vida…………………………..
(conheça mais da luta do Gustavo: www.gustavocavalcanti.com/blog/ )

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Em Curitiba, a liberdade!

Curitiba é uma cidade linda! Não que esteja sendo bairrista porque é a capital do meu estado, mesmo porque em questões culturais e climáticas, a região que moro é mais próxima do interior de São Paulo do que do sul do pais, mas, é linda mesmo!

O cuidado de todos com as construções, com os jardins, com a grama, com as praças, com os prédios antigos, a limpeza e asseio com tudo por onde você olha é encantador! A cidade nos diz quando vamos lá: “bem-vindos a nossa casa”! Tudo é uma extensão da casa do curitibano!

Foi lá, que fotografei este amanhecer lindíssimo, que depois de dias de frio intenso e céu cinzento a cidade me presenteou.
Nesta minha ida a Curitiba vivi uma mistura de tensão, medo e encantamento pelo poder dos bons sinais e fluidos. A vida tem sido assim, tal qual um “marido malandro”: me bate, me deixa tensa, mas, faz uma lei de compensações: e me manda sinais maravilhosos de que vale a pena viver cada segundo desta vida louca e que não temos nenhum controle.

Fui visitar a casa dos curitibanos para fazer o PET-CT, seria o exame de 1 ano longe das quimios, mas, com a espera para a nova lei dos planos de saúde ( que o PET-CT é procedimento coberto pelos planos no caso de câncer no pulmão e linfomas) e mais liberação, escolha de data para não atrapalhar o trabalho…, acabou que fiz o exame no início de Agosto.

Entrei com o pedido junto a UNIMED com uma guia normal, com uma justificativa da doutora e com a última tomografia , que ainda mostrava imagens cicatriciais. Em três dias eles liberaram o exame, só que não poderia fazer no AC Camargo (onde fiz os outros dois pet-ct) porque a UNIMED Paraná não tem convénio com este hospital de alta complexidade. Queria tanto ir a São Paulo, porque adorei o atendimento do hospital, porque é um exame comparativo e porque sou apaixonada por sampa e qualquer passagem por lá é um acontecimento!!!!

Lá fui eu para Curitiba. O lugar que fiz o exame é um dos 2 lugares no sul do pais a realizar este exame, CETAC ( http://www.cetac.com.br/ ) e fiquei impressionada com o atendimento! Nestas minhas andanças médicas por aí, por aqui, posso afirmar seguramente que nunca fui tão bem tratada e paparicada! Até titubeei para tomar o “diazepan” antes do exame, porque afinal sou uma “ garota forte” e estava sozinha na linda Curitiba. Que nada, me entreguei ao “relaxume diazepiano” e dormi, dormi no friozinho de Curitiba com uma coberta louca de fofa, se bobear, ainda ronquei! Que vergonha…. Dormi também dentro da máquina, enquanto imaginava o feixe de luz da cura por todos os meus órgãos. Sempre é assim: penso em tudo de bom que aconteceu e penso na CURA. CURA. CURA. CURA. CURAAAAAAAA.

Saí do exame relaxada, mas, apreensiva. O médico me fez umas perguntinhas estranhas e terminou com um “ fique calma”. Como assim? Tenho motivo então para não ficar calma???? Aquilo martelou, martelou na minha cabeça. Mas, a vida é assim… é curta e precisa ser sugada e aproveitada e Curitiba linda estava inteira ali e eu ainda aproveitei dela.

Para quem já passou por uma doença destas e que está na estrada da remissão total, sabe o que é a tensão que precede os exames, a tensão de esperar os resultados . Sabe que, é uma tosse que não sara, ai a doença. Uma dor no peito inexplicável, ai a doença. Coçeirinha no corpo, ai a doença. Ouvido entupido pela água do banho, ai a doença. Estava assim 2 semanas antes de fazer o exame. E por mais que sei que isto sempre acontece antes de fazer as revisões ainda me assusto, ainda fico tensa, ainda sinto medo.

E alguém me pergunta, mas, Renata você não tem fé na sua cura? Fé em Deus? Sim, tenho. Mas, sou humana. Sei que os planos de Deus são diferentes que os nossos e tenho fé na cura, mas, racionalmente sei que descobri a doença em um estágio bem avançado e que precisava deglutir com cautela uma reincidiva, por outro lado, racionalmente, sinto meu corpo inteiro, minha disposição, minhas bochechas coradas e minhas feições antigas de volta.

Mas, o resultado chegou e rasguei a embalagem como doida e doida pulei e gritei e chorei por mais uma negativa da doença no meu corpo. Sim, as imagens da tomo são cicatriciais e não existe atividade metabólica anormal em meu corpo.

Somente uma frase, que me traz de volta a vida.

1 ano e 5 meses depois do término de 8 ciclos de ABVD para a cura de um Linfoma de Hodgkin em estágio IVB estou limpa, o que significa? Longe deste primeiro ano, o risco de uma reincidiva para este estágio diminuem muito e mesmo que existir uma reincidiva fora do prazo de um ano demonstra uma doença menos agressiva, sendo assim, com uma resposta melhor ao tratamento.
Sinto-me enfim, livre. Neste 1 ano por mais que tocasse minha vida, por mais que tentasse reagir com normalidade, a sombra da doença me fazia ser cautelosa, apreensiva. Mas, 1 ano e 5 meses limpa…. É liberdade!

Curitiba, linda… Agradeço pela acolhida, pela maneira perfeccionista que, que assim como os seus habitantes cuidam de você, das suas vidas, cuidaram de mim. Agradeço pelo amanhecer maravilhoso e por todos os sinais incríveis que me foram enviados em seu solo de que estava protegida e acompanhada pela luz do Espírito Santo e pronta para viver a vida plenamente…


No último sábado, comemoramos o casamento da minha irmãzinha. Nossa caçulinha… Foi tão lindo e eu que tive tanto medo de estragar a festa… Posto uma foto minha com minha mãe . Vejam meu cabelo como esta enorme! Como minhas bochechas estão coradas e como existe vida em meus olhosssssss!!!!!!! Em ? Em? Não to bonitona, em???? Em????

segunda-feira, 28 de junho de 2010

O meu deserto, a minha nova estrada....

O câncer foi a minha retirada (estratégica a francesa) para o deserto para meditar. Foi assim que no começo da minha procura espiritual classifiquei esta, retirada de cena, como o MEU DESERTO… Porque são assim as grandes mudanças na vida ou no mundo, com retiradas estratégicas para meditar sobre novas e importantes condutas e decisões.

Foi consciente do meu deserto que entendi que algumas atitudes e condutas na minha vida deveriam ser repensadas, e, o principal era direcionar minha energia em excesso para meu lado espiritual. Tem sido assim desde então, buscando tantas mudanças, nadando contra-corrente em busca de coisas que tem realmente importância, mas, focada no que neste momento é a minha prioridade: espiritualidade!

Sim, estou fora de contexto. Não é o que a volta grita-se para ser feito, a corrente nos envolve em uma roda vida de IDEAIS de felicidade e comportamento padrão, e, por isto, sinto-me completamente a margem de algumas situações, conversas e lugares. Não importa, absolutamente, não importa, me encontrar espiritualmente e colocar-me em um posicionamento que eu julgo ideal no coletivo é e tem sido a meu principal objetivo.

Estes dias, participei de uma discussão sobre uma paciente de câncer que tinha conflito com pessoas a volta que indiretamente cobravam dela uma postura “BOAZINHA” perante a vida e ela dizia que não tinha se tornado mais “boazinha” e estava se sentindo culpada por isto. O que achei interessante desta discussão, foi que todas as pessoas que responderam, negaram que se sentiam mais boazinhas pós-cancer e sim mais: OBJETIVAS, RACIONAIS e PRAGMÁTICAS.
Bingo! E agora? Não saberia explicar psicologicamente o mecanismo destas mudanças de postura para quem passou por esta doença, mas, talvez…

(primeiro), o fato de ter que enfrentar a doença, que trava com você uma guerra psicológica, nos força a pensar racionalmente sobre as armas e simplesmente atacar!
(segundo), ser privado de inúmeras coisas nos faz dar valor em coisas que realmente tem importância nesta vida e isto nos torna intolerantes a detalhes mesquinhos e dramáticos da vida.
(terceiro), o orgulho cai por terra abaixo, e se sentir completamente HUMANA, nos faz não ter medo de assumir posturas, riscos, qualidades/defeitos e condutas, sejam estes contrários as regrais sociais a nossa volta…

Isto não faz de ninguém bonzinho e assim como a minha colega “loira-linda”, não me sinto boazinha. Ter neste momento como prioridade minha vida espiritual mostra como estou agindo racionalmente atrás do que não se pega, não se compra e não se vê e justamente por ser uma mulher racional e pragmática, tem sido uma busca árdua e dedicada.
Foi desta maneira, estando neste caminho, que surgiu um convite para participar da Sociedade São Vicente de Paulo, uma organização de leigos católicos que está espalhada para todo mundo a mais de 200 anos, que tem como principal objetivo seguir os ensinamentos de Jesus Cristo na prática do amor e da CARIDADE.

O maior ensinamento de Jesus foi o amor, amar a todos! Mas, pensava comigo, amar a mãe, o pai, o namorado, os irmãos, os parentes e ir na missa e rezar….. é isto? É isto???? É só isto??? Isto para mim não era suficiente e conheci a prática do amor, o exercício da vida plena em amor que Jesus nos deixou é sim a base para religiões cristãs e ter DOAÇAO a pessoas que não existem laços sentimentais, isto sim precisa ser a PRÁTICA cristã.

Sou uma consócia da Sociedade São Vicente a alguns meses. E estar neste grupo de pessoas é a minha prioridade no momento.

Conheci novas pessoas da minha Conferencia ( a Sociedade é formada por Conferencias que são um grupo de pessoas que direcionam o trabalho vicentino), pessoas de todo os tipos e idades e aprendi a admira-las pela doação ao próximo! É uma rede de caridade, que nunca sonhei que existia…

Então é assim, nos reunimos uma vez por semana para rezar e discutir sobre as visitas domiciliares que fazemos a pessoas carentes. Nestas visitas levamos conforto espiritual e tentamos identificar as carências materiais e entrar em grupo, resolvê-las.
E é assim, a prática do amor é contagiante! Ajudamos os que precisam, mas, nos ajudamos a ver que não precisamos de muito, só o necessário, nos ajudamos a também a nos tornar melhores dentro da nossa casa, no nosso trabalho, com nossos amigos, porque entendemos a importância da valorização do que temos a nossa volta.

Esta convivência tem sido maravilhosa e reveladora em minha vida. Tenho descoberto em mim amores por todos os cantos na capacidade de me doar e tudo o mais, não tem mais grande importância….

Em um destes domingos, nós, mulheres da nossa Conferência Vicentina, organizamos uma visita no asilo, chamamos a visita de CLUBE DA LULU (zinha) CHARMOSA, e foi mesmo a consolidação do meu desejo de estar nesta Sociedade.

Foi uma folia de alegria, risos, cores, cheiros, toques, gostos e olhares, uma grande festa da AFETIVIDADE feminina… Conversamos em pé de orelha, descobrimos um pouco da história de cada uma, vimos aos poucos se entregaram as nossas mãos cheias de carinho, desejando serem cuidadas e amadas. Nem todas puderam participar… Nem todas quiseram participar…. Algumas olharam nosso movimento e alegria de longe, foram vindo, vindo…. nem que fosse para saborear bolos DELICIOSOS que as consócias prepararam!

Uma não queria o cabelo vermelho, de resto…. nos permitiram tudo!!! Cabelos avermelhados, acobriados, cabelos completamente brancos que sem grandes problemas viraram castanhos, unhas vermelhas “maça-do-amor”, ou com desenhos de flores, massagem nas mãos, chapinha e baybe-liss, maquiagem a escolher em cores, baton muito baton vermelho e tiraram sobrancelha, sem um gritinho de dor! E um grande finale com bijus coloridas distribuídas para todas. Tinha tudo que mulher gosta! De esmalte vermelho a bolos deliciosos para comer entre um e outro trabalho.

Lindas, ficaram lindas. E com sorrisos por todo os rostos…

Foi assim, entre olhares de “eu não acredito” e “sim, eu acredito” , olhares que se encharcavam não se sabia de felicidade ou de emoção, que passamos uma tarde de domingo. Reunidas entre nós consocias, trabalhando juntas, profissionais, universitárias, donas de casa, estudantes, ali, SERVINDO e cuidando….Foi impossível não perceber a paz incrível do ambiente pela união na prática do evangelho do amor.

Não conseguiria descrever neste post em poucas e resumidas palavras o quando me emocionei. Lembrei tanto, tanto da minha vida antes de ter câncer, lembrei tanto da quantidade de amor e carinho que recebi quando estava frágil e quando fomos embora quando elas me abraçaram e disseram DEUS TE ABENÇOE, só conseguia responder com os olhos cheios de água: ele me abençoou e está me abençoando….

Só tenho que agradecer ao meu deserto, por ter feito eu descobrir que precisava mudar minha vida e que precisaria ajudar outras pessoas a mudar as suas, agradecer aos meus amigos da Sociedade S. S. de Paulo, que me consolidaram a importância dos principais valores humanos e por isto me faz adorar estar e trabalhar com eles e agradecer a Deus, por através nas minhas orações estar me auxiliando a conduzir meus caminhos, dentro da racionalidade, por uma paz espiritual completa e inspiradora.

Não o câncer não me tornou boazinha.... me tornou humana.
(Abaixo fotos, das mocinhas que cuidamos, minhas e das consócias companheiras deste trabalho e de momentos especiais que vivemos...)




















(antes e depois ( de 2 delas, fiu-fiu)



(para quem quiser conhecer mais do nosso trabalho: http://vicentivando.blogspot.com/ e para quem quer conhecer a SOCIEDADE SÃO VICENTE DE PAULO: http://www.ssvpbrasil.org.br/ )

sábado, 19 de junho de 2010

FORA HIPOCRISIA!

Desde de que publiquei este último tópico, me envolvi em algumas polémicas neste mundo virtual. Os dois próximos tópicos serão sobre isto: sobre a mudança clara em nossas vidas e sobre uma praga virtual chamada “FAKE”. Todas estas discussões se amarram e se completam em uma rede de hipocrisia e concluí que, estou COMPLETAMENTE intolerante a tudo que é FAKE, tudo que é máscara, tudo que é hipócrita. Não respeito e nem assino em baixo da AUTO-AJUDA CANCERIANA.

Duas amigas e mulheres maravilhosas, que esta doença colocou em meu caminho escreveram sobre este assunto que permeou estas últimas 2 semanas e peço para que meus leitores e pessoas também usam a internet como um campo para discussões também abram seus espaços para esta polémica.

Visitem o blog da Ludmila Rohr (http://mulheremcrescimento.blogspot.com/2010/06/quando-todos-puderem-beber-agua-da.html ) esta baiana que acompanhou o câncer do seu amor e da Carin (http://encontrandodrhodgkin.blogspot.com/2010/06/cancer-cor-de-rosa.html ) esta menina guerreira de olhos verdes que se recupera de um transplante de medula.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Cheguei até aqui!

Nos últimos posts muitos novos leitores tem frequentado minha caixa de mail, com suas histórias e dúvidas . Principalmente acham o blog animado, feliz e se identificam com minha transmissão de pensamentos em palavras.


A primeira postagem do blog data do dia 2 de Dezembro de 2008 (http://hodgkineuconheoestecara.blogspot.com/2008/12/como-entrei-para-turma.html) e conto como ENTREI PARA TURMA, das pessoas que tem ou tiveram câncer. Sim, porque é mais ou menos uma turma, nos reconhecemos e sem querer nos achamos no meio da multidão e sem querer estamos na casa um dos outros nos apoiando. Através do blog e do orkut conheci muitas pessoas, sabemos que estamos, mais ou menos, no mesmo barco. Mais ou menos, porque existem tipos de câncer diferentes, estágios diferentes e diferentes maneiras de lidar com a enfermidade.


Quando se reconhece alguém da turma, normalmente existe uma gana para dizer o quanto “andei para chegar aqui até”, mil palavras por segundo… De diagnóstico a fim de tratamento, rápido……. Aí, se fala dos sentimentos, dos medos, das provações, dos avisos, da procura do porque, da fé, da morte… Em 90% dos casos existe a necessidade superficial de se mostrar forte.

Existe uma “cultura” e “industria” do câncer. De medicamentos novos, de exames em máquinas que parecem ter saído de algum filme de ficção científica, de novas pesquisas diárias que parecem a qualquer hora anunciar a cura definitiva, outras que a primeiro momento são anunciadas no Jornal Nacional e depois são testes que não passam das cobaias, técnicas espirituais de regressão, de cirurgias por médiuns, controle espiritual agudo, pastores que tratam o paciente de câncer como cobaias espirituais e todo tipo de religião que se aproveita da fragilidade para conquistar um fiel e livros, montanhas deles que ensinam dietas, cura e auto-ajuda “canceriana” ou “cancerígena” (estou criando esta definição agora, se existe me perdoem, mas, acho que cancerígena seria a auto ajuda que causa câncer , não deixa de ter um sentido… Mas, para evitar subjetividades, fica denominado AUTOAJUDA CANCERIANA).


Esta quase lei utopica, heroica e comum de dizer por ai que se está “COMPLETAMENTE A VONTADE COM O CANCER, PORQUE SEGUNDO PESQUISAS O OTIMISMO DO PACIENTE O CURA…e BLABLABLA”, é um grande tumor exposto, com dores latejantes, irritante e supuração amarela!

Quando se descobre um câncer, a tendência é associar a idéia de VOCÊ CAUSAR O CANCER EM VOCÊ, não adianta quererem me dizer que “estudos provam….” que o câncer é magoa, é rancor, é insatisfação pessoal, NÃO ACEITO. Quando descobri a doença sim, no primeiro momento meu inconsciente coletivo fez que me culpasse por aquilo que tinha feito comigo. Depois, abaixada a poeira do choque: mentira, eu não fiz isto comigo, não causei a doença! Ela surgiu. Procurei explicações científicas para isto, elas existem. E procurei explicações empíricas, como a sincronicidade dos acontecimentos em nossas vidas, razões espirituais da nossa evolução humana ou ainda sermos partes e todo de algo maior que nos une a um amor maior: Deus. Ou quando tudo não explicava nada, fui e sou pragmática: as coisas acontecem e enfrentamos, certo?

Depois, da AUTOAJUDA CANCERIANA nos pregar na cruz, apontando como culpados pela doença, ela, nos diz que: “ se você causou a doença em você, você também é responsável por tirá-lo de dentro de você” , e é aí, que vem as frases de efeito, os clichés pregados em parachoque de caminhão, aí está os sorrisos amarelos e a imensa CULPA por se estar com medo, tristeza e preocupação.


Vou explicar.


Já ouvi muito: pessoa descobre a doença: estou bem, estou forte, estou tranquilo. Depois se começa a quimioterapia: tranquilo, tive uns efeitinhos, não é um bicho de 7 cabeças. Cabelo cai: a não tranquilo, não liguei, cabelo cresce… Transplante de medula? Tranquilo! UTI? Balada das boas. Cirurgias extensas para retirada de tumor? Tranquilo como ir até a esquina, e aí se vai a necessidade desumana de se provar para si e para o mundo que você vai se curar pelo seu pensamento positivo, que você faz parte da turma que é positiva.


Completamente desumano com quem lê, com quem convive, com quem se espelha, com quem busca a cura. Porque se você se senti com medo e de repente cai nesta “cultura da felicidade e positivismo”, começa a se CULPAR novamente por não ser este GUERREIRO DE LUZ E FORÇA que tudo a volta está te exigindo!


Existem inúmeros livros com esta autoajuda cruel de felicidade e positivismo a qualquer custo, existem comunidades no orkut que as pessoas falam do câncer e dos sofrimentos como se mesmo o câncer fosse COR-DE-ROSA. E sempre vou dizer, por mais que me contestem, que não é por aí, que não somos culpados e muito menos heróis. O que nos cura é descobrir rápido a doença, os remédios que tomamos, e que nos trazem efeitos colaterais ruins, e sim a FORÇA, a força de também se admitir que somos humanos, que precisamos de colo nos momentos de medo, que precisamos de AJUDA para caminhar, AJUDA para tomar banho , AJUDA para se alimentar bem, AJUDA para fazer necessidades biológicas ora, moles como agua, oras, duras de chorar, AJUDA para nos sentirmos amados e necessários e AJUDA para estar felizes genuinamente. A AJUDA que não está nas frases clichés, nem na curiosidade fantasiada de preocupação, nem na superficialidade de quem se diz contente por estar com câncer e muito menos no altruísmo de quem quer medir a própria felicidade pelo seu sofrimento.


Quando criei o blog não foi para ser uma fonte científica para pacientes com câncer, nem uma fonte de AUTOAJUDA CANCERIANA, nem um diário, não tinha objetivos com o blog , queria apenas escrever sobre o que estava sentindo. Depois de quase 2 anos de blog, mais de 3000 acessos e inúmeros novos contatos e amigos, digo que ter tido câncer não foi um premio em minha vida, enfrenta-lo não foi um ula-ula e estar curada é seguir a vida. Somente.


Para os novos visitantes , meu mail de contato é rsrenatas51@gmail.com, se quiserem dividir sentimentos e se encontrarem nos medos e hilariedade da vida existem inúmeras postagem antigas da época que estava em tratamento e de quando retomei a vida, aí sim, todos poderão entender e compartilhar as milhas de percorri para chegar até aqui!

Você não sabe

O quanto eu caminhei

Prá chegar até aqui

Percorri milhas e milhas

Antes de dormir

Eu nem cochilei

Os mais belos montes

Escalei

Nas noites escuras

De frio chorei, ei , ei

Ei! Ei! Ei! Ei! Ei!...


(tony guarrido)

terça-feira, 11 de maio de 2010

Meus cabelos no Divã




Por estes dias estou tentando retomar com força ao meu hábito diário da leitura. E não é fácil! É muita coisa para fazer, para trabalhar e principalmente para entreter! Mas, quando pego um livro e DEVORO (… tal como Caetano a Leonardo de Caprio…), fico com um “odinho” de mim por ter ficado por tanto tempo longe dos livros.
E por estes dias DEVOREI um livro de crónicas de Martha Medeiros. E poxa, senti um “odinho” por tanto tempo ter gostado das suas palavras e ter me esquecido dela. É assim, não é? É tanta informação nova a todo instante e de repente esqueçamos das coisas que REALMENTE são importantes.
Bem, é baseado um romance de Martha Medeiros o filme Divã que tem uma das cenas mais engraçadas que já vi!
Repica!!!!
Repica!!!
Repica!!!
Repicaaaaaaaaaaaaa!!!
A mulher que está completamente envolvida com uma nova paixão, se sentindo livre e transgredindo sua vida, grita ao cabeleireiro para REPICAR o cabelo que antes era cuidadosamente bem escovado, quiçá por uma escova inteligente ou definitiva, frio reto, quase um chanel demodé. Enquanto o “personal hair” , um homem que “dá pinta” de gay ( destes que nós mulheres adoramos) explica para a amiga da mulher que esta acostumado com estas mulheres que passam anos com o mesmo tipo de cabelo e basta uma paixão e elas radicalizam e já querem REPICAR O cabelo… ela lá… Repica, repica, repica antes que o mundo acabe!
Meu cabelo cresceu assim. Repicado, enrolado, em desordem, livre, pronto para estar e ser da forma que bem desejar! É normal isto? Não sei…
O que sei é que todas vezes que no cinema umas mulheres entram em liberdade de qualquer situação, seus cabelos passam de lisos para enrolados instantaneamente, já repararam?
Meu cabelo anda “dando esta pinta”, de “REPICA, REPICA”, se eu aliso ele fica repicado e todos elogiam o corte de cabelo “desconectado”, dependendo da pessoa, do tempo e do meu estado de humor ou da necessidade de dar uma contadinha da minha história, eu já vou dizendo ele cresceu assim, “naturalmente repicado” e se eu não aliso aí sim, os ares desconectados livres que o torna enrolado, armado para o lado que ele sentir confortável . Minha mãe que sempre adorou os cabelos das filhas “sob o controle” do fio reto, vive reclamando “filha, a Cris repicou seu cabelo…”
Resumindo: estou “dando pinta” de mulher apaixonada, livre e transgredindo a vida! E julgando pelos cabelos, “ onde há fumaça, há fogo”! É…. Estou. O meu cabelo está cumprindo a missão de me mandar para o lugar onde devo estar ou ainda ele estando perto dos meus pensamentos inconscientes talvez os escute melhor e defina na aparência minha intensa vontade de viver a vida apaixonadamente.
Se discute tanto sobre os cabelos que caem durante a quimio. Uns dizem que cabelo é de menos que “cabelo cresce” (uma pinóia! É ruim demais os vê-los cair) e outros sempre tem aquela “dozinha” de você por ser tão careca! Todas falam dos cabelos que nascem depois da quimioterapia, uns mais bonitos, uns mais feios, uns mais lisos, outros mais secos… Realmente não tenho dados estatísticos e científicos para comprovar o que influencia nos novos cabelos, mas, as minhas madeixas nasceram rápido demais, fortes demais, secos demais, armados demais, enrolados demais e linnnnnnnnnnnnnnndos demais! Ah esqueci: repicados demais!!!!

Ando apaixonada pela vida. Apaixonada por esta paz interior imensa que me faz livre. Lógico que, como tudo nesta vida, envolve um esforço grande conseguir viver em uma “vibe” diferente que o mundo a sua volta, nesta vida maluca e ofegante que é tão comum, até o momento que você decide que precisa de outros valores para continuar sentindo PAIXÃO e TESÃO por viver, que DEVE existir algo desconhecido, escondido que não está visível aos olhos e que dá sentido a tudo que nos acontece aqui, neste mundo terreno.
Ando APAIXONADA e transgredindo inúmeros conceitos que para mim eram, concretos, na verdade, concretos demais e por assim ser, controláveis. Não, não quero controlar, não é possível controlar uma paixão, não é possível controlar meus cabelos…. Repica!
Repica!
Repica!
Que quero meus cabelos livres ao vento!!!!


(vídeo da cena do filme Divã (repica): Lilia Cabral e Paulo Gustavo.
Foto: eu e minha amiga recentemente em uma baladinha de remember dos velhos tempos...)

terça-feira, 23 de março de 2010

1 ano depois: COMIGO É NA BASE DO AMOR E DAÍ?



A minha adolescência coincidiu com uma época maravilhosa da música: o surgimento do rock nacional. Titãs, Barão Vermelho, Engenheiros, Paralamas, Titãs, Camisa de Vênus, Ultraje, Legião Urbana diferentemente da imagem careta que adquiriram nos programas dominicais atuais, eram rebeldes e ousados.


Conversando com uma amiga as diferenças de época, relembramos a fita cacete e o dedo no “rec” quando nossas músicas preferidas eram reproduzidas nas rádios FMs. O locutor ressaltava que “ fulano pediu esta música PARA GRAVAR”, sendo assim, nenhuma vinheta iria atrapalhar a reprodução insistente das nossas músicas preferidas. O mais bonitinho, era ficar com os dedinhos de uma mão no pause/Play e na outra mão o papel e caneta tirando a letra das músicas para depois cantar “FAROESTE CABOCLO” em toda altura com as amigas na escola. Estas eram as músicas “ de massa” na época e fui contaminada por elas. Fui contaminada musicalmente novamente quando emprestei um Cd ao vivo do Eric Clapton do irmão mais velho de uma amiga minha, e depois quando um amigo me deu uma copia de umas musicas antigas do Caetano Veloso (até então achava MPB um chatice )e definitivamente foi um vinil antiquíssimo de um professor da faculdade da Bessie Smith que consolidou meu gosto musical.


Adoro música. Não sou “eclética”, porque acho esta definição para quem fica na supercifialidade de ritmos, mas, gosto de música BEM FEITA. Sim, acho que a música é uma excelente diversão, mas, não gosto desta única definição para a música. Sim, ela nos diverte, porque disperta a alegria, a vontade viver, mas, não é só isto… Ela nos faz pensar, nos pode fazer viajar para momentos que não vivemos, lugares que não fomos, sentimentos que não temos ou não vivenviamos ou, reviver momentos especiais.


A música agora faz parte do MERCADO. E o mercado precisa que no mundo as pessoas sejam felizes com bens de consumo, que sejam felizes com prazeres descartáveis e superficiais, assim, a música do mercado nos quer fazer PULAR de felicidade, nos quer COLOCANDO A MÃO NA BUNDINHA de alegria, nos quer TODO MUNDO JUNTO de delírio…


Gosto dos ritmos regionais! Aqueles que são genuínos, que são folclóricos, que nos faz entender um pouco a história de um povo. Mas, tenho preconceito quando os ritmos regionais se tornam de massa, deixando a qualidade e expontaniedade de lado em nome do tal mercado do PÕE A MÃOZINHAS PARA CIMA!


Divaguei.


Sei que sai completamente do foco deste post. E sabe, to nem aí! Afinal faz um ano que terminei minhas 16 sessões de quimio e com este tempo no currículo, perdi, achei… perdi e achei….achei e perdi novamente o FOCO muitas vezes.


Sinceramente, TO NEM AI, em me sentir perdida, sem FOCO mesmo. Está se distanciando da época que o Cara, linfoma, fez parte da minha vida e admito, NEM Aí, que o medo da doença me ronda de vez em quanto. No dia 9 de Abril faz aniversário de 1 ano meu exame controle, o PEtcan, isto significa que refazendo meus exames trimestrais nesta data e na certeza que o linfoma foi dar uma volta a galáxia MERDIS (e se perdido entre planetas escuros), no começo do mês assino minha condicional, e não precisarei “dormir na prisão linfática” de 3 em 3 meses e só quem faz este controle sabe o quanto este exames trimestrais são ansiosos


Um ano, muitas coisas aconteceram. Tive perdas significativas, mas, ganhei muito mais, me sinto como se este tempo estivesse em uma encubadora, me fortalecendo antes de sair para a vida real e aguardo cenas dos próximos capítulos para saber como os ganhos e perdas vão influenciar na minha vida a partir de agora.


Olhando para traz, hoje, não tenho grandes conselhos, teorias, apontamentos ou dicas para dar. Estou na fase da filosofia do “COMIGO É NA BASE DO BEIJO….”


Como assim?


É , não suporto este axé da boca dos “pulativos” trios elétricos, mas, não tenho mais FOCO, não digo mais nunca, nem nunca mais e muito menos para sempre, não quero saber das coisas que me faz mal, das intrigas, passo longe e das brigas só as que valem a pena. Comigo, agora, é na base do beijo.


Sim, nas minhas noites de música, não entra esta música comercial DA CULTURA DA FELICIDADE, mas, comigo é mesmo na base do beijo, COMIGO É NA BASE DO AMOR.


Entao, no início deste post, este alguém que escreve, descreve sua formaçao musical formação primorosa e e no final "solta" esta teoria filosófica de “ comigo é na base do beijo, comigo é na base do amor”... Devem estar me achando prolixa e incoerente, e eu com isto? “comigo é na base do beijo, comigo é na base do amor” e se alguém me olha torto porque estou vestida de uma maneira simples, e eu com isto? “comigo é na base do beijo, comigo é na base do amor” e se a fulana falou da ciclana, e se a ciclana disse que eu…… , e eu com isto? “comigo é na base do beijo, comigo é na base do amor……………


SEndo assim, criei esta filosofia baseada na música de “QUEM PULAR MAIS ALTO É MAIS FELIZ” e ela diz que: o que importa é o que eu sinto, o que importa é o amor e os nobres sentimentos. O que importa é o bem-estar, os bons argumentos. Diz também que a única coisa que quero saber da vida dos outros é se são pessoas que contribuem para um ambiente melhor e não me importa o que pensam de mim, nem o que represento.


Troquei a intolerância de coisas que já não tenho paciência, por cantar baixinho ou alto, “COMIGO É NA BASE DO BEIJO, COMIGO É NA BASE DO AMOR”…..


Então é assim, com certeza assino minha condicional em Abril, daí, leitores, me segurem, porque nada adiantou a minha profunda lapidação musical de anos… ERGO AS MAOZINHOS, REBOLO A BUNDINHA E CANTO BEM ALTO atrás do trio elétrico: comigo é na base do beijo, comigo é na base do amor….. comigo não tem disse me disse………….

quinta-feira, 18 de março de 2010

...

Ergo a cabeça contra o vento, e em uníssono com ele aceito compreender que sou mortal. E tudo passa por meus sentidos. Não tenho a doença dos homens de joelhos que me quis pôr um mundo estúpido que nem mundo o vejo! Não preciso agarrar a vida num relógio de pulso, tenho um coração de verdade que mede meu tempo. Aceito ser mortal! Olho para o mundo, para o horizonte inalcançável, e, incansável de existir, aceito minhas pernas sem tê-las por miúdas. Meus olhos... Se veem demais, sou grato! O instrumento que estou, se assim se dá uma ocasião, satisfaz a si próprio por realizado nos cumes.


F. Melacocci
(publicado em: http://entimesmado.blogspot.com/)

Li e lembrei deste meu espaço, onde assumi a minha posição de mortal!

terça-feira, 2 de março de 2010

A poesia que existe na vida...


Conhecem as moças da foto?
Lola e Brigitta. Também não as conhecia! Mas, me fiz conhecer!
As conheci através desta foto que me foi enviada por uma amiga querida a Hegli (http://educacaoambientalcontemporanea.blogspot.com/) , ela é apaixonada por imagens antigas e começamos a conversar sobre as duas moças, sobre o glamour da foto, sobre viver em uma outra época que não fosse a nossa, sobre a conquista da liberdade de escolhas das mulheres e principalmente sobre a amizade!


E então, uma grande vontade de escrever um conto sobre elas me tornou inquieta.
Tenho um carinho especial por esta história, porque foi a primeira grande história que dispertou em mim a vontade ESCREVER um conto. As imagens e sentimentos imaginados para as personagens nao foi possível em um resumido conto e tenho inumeros fatos em fasches guardados em palavras e em imensa vontade escrever descontrolavelmente.


Lola E Brigitta, me fizeram mergulhar em uma época que não vivi, mas, tem a liberdade e o amor pela vida que são meus objetivos de vida para sempre e é lógico que esta história está intimamente ligada com a euforia que senti logo após o término do tratamento!


Mergulhei neste universo e desenvolvi broches lindos com tecidos nobres e plumas com o nome "Lola e Brigitta" e me envolver com tudo isto me faz sair da rotina que nos castiga e nos prende.
A quem diga que esta história ainda vai virar um livro....


Oxalá, espero todos na festa de lançamento!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Começo por ser no passado e o futuro pode ser ontem?



Hoje ao colocar a primeira garfada de um almoço caseiro , simples e feito com amor ( do jeito que eu mais gosto) na boca, a palavra “quimio” veio a tona na conversa em volta a mesa. Pronto, a comida ficou com aquele gosto de isopor e um enjoo insuportável já veio ao corpo instantaneamente…

É respirar fundo e mentalizar que está tudo no passado.

Ficou em um passado contabilizado em 7 meses mais ou menos , porque não comemoro seu aniversário mês a mês, o fim da quimioterapia a cada dia é mais e mais o passado que passei por um câncer.

Neste tempo , as marcas físicas são poucas. Ainda evito tomar sol e estou acima do peso. Ainda não sei qual o motivo ou a junção de todos: o inchaço pelo descontrole de hormonal e no sistema linfático, a falta de exercício físico, sentir novamente prazer no gosto dos alimentos ou a vontade de ter todos os prazeres da vida, inclusive o de se entupir com um bolo de laranja com calda e café em volta da mesa com um bom papo!

Por algum tempo também senti dores no peito, o que me fizeram procurar um cardiologista porque fiquei pensando que poderia estar com danos da quimio no miocárdio. Nada disto, meu coração e sistema circulatório estão ótimos! Perdi muito da minha resistência física, mas, fiquei por longos meses em uma vida sedentária ingrata!

Ainda sinto enjoo de alguns alimentos, por exemplo sorvete e frutas em geral. Das frutas faço um sacrifício danado para todos os dias comer pela manha com cereais, mel, Kinoa ou linhaça, mas, a associação com a fase da quimio ainda é grande!

Os enjoos voltam com frequência, principalmente quando lembro da quimio, vivo situações que faz lembrar algum sofrimento da época ou quando fico nervosa com algo.
Meu cabelo esta crescendo rápido, já voltaram a ser loiros a meses! Eles nasceram enrolados, algo que sempre foi o sonho da minha vida, mas, estavam desalinhados e nesta semana fiz o meu primeiro super corte!

Ainda não me acostumei com minha nova aparência, quase não me reconheço em alguns momentos. Ainda não sei o que é. Minha pele esta bonita, meus olhos estão com vida. Mas, algo mudou! É como se tivesse envelhecido ou amadurecido, a minha aparência de moça, foi trocada por de uma mulher. As vezes acho que é por causa dos kilinhos a mais. Não sei. Ou porque realmente o amadurecimento que o sofrimento me causou interiormente esteja refletido na minha aparência externa!

Sim, isto me incomoda. Mas, ainda não sei se preciso realmente me acostumar com isto ou se posso voltar a ser a mesma Renata de antes.

A cobrança por levar uma vida saudável é grande. A cobrança por estar sempre comendo bem, relacionando bem, sentindo bem, vivendo bem é GRANDE…… É como uma batalha e que qualquer escorregão fosse perder a guerra contra a volta da doença.
Voltar ao meu cotidiano não vou uma tarefa muito fácil, existe planos de viver intensamente, mas, quando se volta… Existe planos que foram deixados inabados, outros adiados e tudo fica confuso, o que fazer: recomeçar ou retomar sonhos antigos?

Estive como uma pista de patinação, sem saber patinar! Não conseguia resolver as coisas pequenas e corriqueiras, lenta, com uma memória péssima e aos erros atribuindo sempre , a DOENÇA. Perdida em coisas subjetivas, mas, também nas objetivas, como organizar finanças, planejar minha vida sentimental e minhas gavetas. Podia ter ficado triste com isto, mas, não, em um primeiro momento a força e a autoestima de ter superado a dificuldade maior da minha vida fez com que nada tivesse importância, somente, a certeza intensa que tudo iria dar certo.
Depois, um vazio intenso se instalou e comecei a me sentir como uma gigante dormindo com os pés para fora em uma cama pequena. Não conseguia adaptar minha nova concepção de vida, com o que sobrou da minha vida de antes da doença. Queria uma mudança radical, mas, faltou forças! Faltou psicológico! Sobrou gelo na pista.

Fui invadida por um profundo sentimento de tristeza e impotência. Da qual não quero descrever ou reviver neste texto.

Até cheguei a procurar ajuda profissional , mas, respirei fundo, me entreguei a felicidade diária de estar com quem eu amo e me deixei levar simplesmente ao presente e a resposta foi: PACIENCIA!

É preciso paciência, paciência para se encontrar, para descobrir o que realmente mudou , o que realmente tem importância e a partir disto: o que fazer do futuro.
Sim, a minha vontade era de pegar meus havaianas, meus shortinhos, meus livros e cds e me esconder em uma cidade na beira da praia e viver contemplando a natureza. E então, se nada me impendia de fazer isto, por que não fazia?
O NÃO FAZER gerou um sentimento geral de frustração que só foi curado com a paciência que conquistei.

Aos poucos a minha vida profissional entra nos eixos, aos poucos estou delimitando as mudanças que quero na vida e vou sedimentando uma grande virada!

Para extravasar a ansiedade, a minha energia em excesso e minha inclinação pulsante pela arte e conhecimento, estou desenvolvendo trabalhos manuais lindos (http://renatiando.blogspot.com/), que além de renderem elogios, momentos de trabalho prazerosos, renderam também retorno financeiro.

Não tenho mágoa, não tenho raiva, não tenho pena de mim, não tenho qualquer sentimento ruim em relação ao câncer, nada! É somente algo que tive que passar, assim como outras pessoas passam por outras doenças físicas e psicológicas, outras, por perdas sentimentais, outras, convivem com sentimentos ruins que elas mesmo criam diariamente… Eu passei por câncer, mas, também passei até agora por momentos incríveis, com pessoas a volta que sempre me amaram!

Dos momentos em que tive medo de não viver mais só guardo comigo o meu crescimento espiritual e sentimental. De ver a vida como ela é, sem dramas, sem ufanismos, sem ideologias baratas, sem romantismo superficial, sem frases de efeito ou clichés alienantes. A vida, a frente, um longo caminho delicioso de ser percorrido seja qual for o destino final.