quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

E então o tempo passa...

PASSADO

"Para minha familia, minhas irmãs delícias, para meus amigos, conhecidos e todos que com amor e orações me trouxeram de volta a vida"


A quem diga que o passado não serve para nada, que quem vive de passado é museu… Existem aqueles que adoram passar uma borracha em tudo, sempre recomeçar do zero, sem olhar para trás, a quem sacuda a poeira e sem deixar um grão, dá a volta por cima. A quem ache que saber sobre história é perda de tempo e quem ache que o passado é relativo assim como o tempo perante um cosmo de milhões e milhões de anos luz e uma eternidade infinita.

O passado este tempo verbal fora de moda, esta carga espiritual, sentimental e genética, que desprezado por muitos, é por outros revivido e recriado por tantos outros que acham que eram felizes e não sabiam, que eram felizes e são mais felizes e não percebem por não evoluir e se reinventar dentro de novas realidades e possibilidades.

Viver do passado, viver no passado, ver o passado, reviver o passado, aprender com o passado, recriar o passado…. e se não somos as decisões e os anos passados , o que somos?

Não tenho o que reclamar do que passou, do meu passado. Nasci em uma casa amorosa e tive uma infância maravilhosa, minha juventude foi incrível nunca me encanei por pequenas coisas ou sentimentos. Tive força para superar dificuldades, impossibilidades e conquistar coisas que eu quis e a consciência do que eu não conquistei foi por falta de força de vontade. E a dois anos deixei para traz a parte mais difícil da minha vida: um câncer.

Não consigo deixar este meu espaço no passado. De vez em quando venho aqui releio, as vezes revivo, só às vezes. E como esse espaço é presente, tenho que vir e contar que agora em Fevereiro estou 2 anos longe das quimioterapias e curada.

(Sorriso no rosto)

(Sorrisão no rosto)

Não vou fazer um balanço de tudo. Não conseguiria, tantas coisas aconteceram. O que eu posso dizer é que ter tido câncer, ter sofrido pelo medo da morte, ter paralisado minha vida pessoal e profissional, ter levado picadas, picadas e mais picadas, ter ficado careca e estranha, não foi algo a mais ou a menos na minha vida que está no passado.

2 anos depois, tive mudanças tão legais e outras nem tanto e chego a afirmar que ninguém ,muito menos eu, precisaria do sofrimento para ter um presente melhor. As tais mudanças que todos comentam em brado tom de quando se passa por um câncer ( “mudei muito”, “passei a dar valor a outras coisas”), vão se diluindo com o tempo, com o cotidiano e como tudo nesta vida maluca precisa ser alimentado e lembrado e revivido, não com os ares de sofrimento traumatizante, mas, com a racionalidade de o que passou ser a reconstrução de uma vida como um ser humano melhor. E o medo da volta da doença vai se diluindo, mas, tão lentamente queontem quando fui ver meu resultado de VHS, meu coração ficou aos pulos, tava só em 2…. 2, o que significa que não tenho indicadores no sangue de doença e tendo feito o pet can a pouco tempo, não refazerei outros exames. Ou seja, 2 anos limpa.

Ta, sou mais intolerante, quando faço algo que magoo alguém me cobro muito mais…Mas, sou tão mais light para viver o presente, valorizo tanto mais a minha vida, as minhas pequenas conquistas, tenho tanta pouca presa para ser ou fazer o que está no ordem do mundo. Sim, quero mais da vida como todos, quero minha parte, meu espaço, mas, como é bom, simplesmente viver , dia após dia, com minhas pequenas e minúsculas conquistas, afinal é a minha vida que esteve em jogo.



Adoro museus, um dos dias mais incríveis da minha vida foi quando fui para o MUSEU DO PRADO , em Madrid, e fiquei lá um dia inteiro respirando e vendo tudo aquilo e um dos dias mais marcantes da minha infância foi quando visitei o museu do Ipiranga em sampa, devia ter uns 5 ou 6 anos e lembro da minha comoção em estar naquele lugar. Adoro cidades antigas, históricas, prédios que beiram a decadência, ruazinhas de pedra, cheiro de mofo, barulho no assoalho, escadas que rangem, fantasmas a volta… rs. Adoro o vintage, o retro, as cortinas de veludo. Adoro as vozes das divas antigas de jazz circundadas pelo chiado das antigas radiolas. Adoro buscar argumentos na história. Adoro as histórias dos meus pacientes velhinhos. Adoro o colorido do branco e preto de filmes antigos.

Adoro meu passado, mas, amo meu presente. E para você que vive no presente o que eu vive no passado, repita sempre o que eu sempre repeti nos meus piores momentos: “ISTO TUDO VAI FICAR NO PASSADO”



PRESENTE