quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Run.... run....





Então, no fundo uma voz doce diz: Run, Forrest, Run! E o garoto desajeitado com próteses enormes e medonhas nas pernas, corre.

Corre.

E corre, passa anos correndo.... correndo...

Esta cena grudou na minha cabeça esta semana. Indiquei o filme para uma garota e falamos tanto do filme e eu só conseguia na verdade me lembrar da cena do “Run, Forrest, run”!

Lembrei de quando fui assistir este filme no cinema, e no outro dia assisti Pulp Fiction, afinal foram concorrentes do Oscar de melhor filme no mesmo ano e foi uma discussão enorme entre eu e meus amigos de este é melhor, este é pior... E eu colocava minha opinião a serviço da ousadia de Tarantino e de seu flerte com este lado perverso da vida e do crime. E dá para comparar os tiros e sangue de Quentin Tarantino com Forrest correndo pelo mundo só por causa do incentivo da amiga? Dá para comparar a dança de Jonh Travolta ao som de "You never cant tell"com a dança que Forrest ensinou ao Elvis?

Existe uma comparação? Existe um paralelo....? É possível......?

Dois anos e 7 meses livre do Linfoma. Completamente curada, em todos os sentidos possíveis e impossíveis de cura, meus leitores, consegui tantas certezas e para ter-las, ufa, um mergulho profundo na vida que fez cair por terra certezas absolutas (e superficiais) e dúvidas apareceram...

Querem um exemplo? Posso dizer, com propriedade de quem pensa muito sobre as antíteses da vida, que ficar doente, me fez saudável! Louco isto? Mas, tudo está tão mais claro, até meus mergulhos no meu próprio lado sombrio . Vivo no lado de luz intensa, preciso disto no meu cotidiano, mas, entendo e respeito que não é possível ser e viver somente assim.

Que bom seria ter certeza que a vida é preto no branco, é cara ou coroa, doença ou saúde, é erro e acerto, é claro e escuro, mas, quando vejo uma meia-luz me sinto completamente absorvida... Quando vejo um erro, escandalosamente, quero encontrar um acerto escondido.

Quanto mais busco o que acredito, quanto mais tenho certeza do que nos faz medíocres, quanto mais vejo os lados A e lados B da vida , mais de alguma maneira eles se cruzam , se misturam e flerto como espectadora consciente a pedir que se não for para se separem novamente, que eu entenda e seja feliz do jeito que a vida se apresenta.....

Para quem está na luta, preciso sempre vir aqui e dizer que a doença não me levou nada, a não ser minha inocência que acreditava que a vida era somente sim e não, feio e bonito, feliz ou infeliz. A falta de inocência tornou o mundo a minha volta numa paisagem linda, não como em uma fotografia trabalhada no “photoshop”, mas, com misturas de cores graciosas e impressionantes como as pinceladas de Monet . Levou minha superficial inocência e me trouxe a saudável visão de todas as nuances dos dúbios sentimentos e escolhas. Vejo com razão se o dia é chuvoso e cinza, reclamo, mas, sei que outro dia virá e dele será de céu azul e se não for, um dia será... Se alguém me atravessa com olhares ou com palavras sombrias, tento RACIONALIZAR e traçar um paralelo sempre Forrest e Pulp Fiction, rsrs, e porque tantas vezes os caminhos são frios ...

Estou muito saudável. A doença gritou para mim, não com a voz doce da amiga de Forrest, “run, Renata, run”, vá, solte as amarras e não tenha medo do seu lado sombrio. Run, mergulhe nele, Run, descobra quem você é. Run, não olhe para traz, run. Run, viva, que a vida é mais que um certo ou errado...que um sim e um não... que estar doente ou estar saudável...

Run, Forrest e dance imitando os dedos de Uma Thurman..... em Pulp Fiction...





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