Já se passaram alguns meses depois que postei aqui, sobre os tsurus.
Existe uma tradição no Japão, sobre pagar pedidos e promessas fazendo mil tsurus. É a concentração de se parar o tempo e a corrida contra o desperdiçar de energias e centrar nas dobras e desdobras, na observação milimétrica do encaixe e depois na distribuição dos pássaros a voar por aí.
Os orientais são sábios quando em suas tradições respeitam o silêncio, o tempo e a paz e a voz interior.
Não é fácil a reconstrução. Não é fácil ouvir tudo que grita interiormente e facilmente, colocar em prática. Não é fácil controlar a sombra da doença a infernizar nosso passado, presente e futuro.
Quando terminei tudo, me enchi de planos e tudo que queria fazer, mudar para continuar, mas, me frustrei com algumas coisas, com a parte prática da vida que devemos adaptar ao nosso novo conceito de felicidade. É difícil “operalizar” a vida depois de um baita susto destes, leva tempo e paciência.
Já se passaram mais de 4 meses do começo a remissão e fim do tratamento. Aos três meses voltei para a revisão. Exames de sangue normais e nas tomografias ainda aparecem as “massas tumoais residuais” comuns em linfoma. Mas, uma palavra foi tormento por mais de 20 dias “DISCRETA” alteração. Ela me amedontrou. E o que em princípio foi combinado, fazer o petckan somente 1 vez por ano, teve que ser mudado e refiz o petckan.
Confiei sempre na minha cura completa. Confiei sempre nas bênçãos que recebi, mas, é humano a dúvida e por dias me senti com medo da volta da doença, lógico que senti medo de retornar as quimios e ter que fazer o Transplante Autólogo , mas, o meu maior medo foi ter que parar novamente a vida por mais 6 meses, adiar sonhos, planos e depois ter que retomar tudo novamente mais tarde. Este foi o maior medo.
É… Vou ter que sentar novamente em um lugar que tenha uma brisa suave, talvez prefira o silêncio ou uma diva cantando um jazz clássico de trilha, vou colocar um shorts, havaianas e começar as dobras e desdobras nos meus mil tsuros em agradecimento por um petckan negativo.
Nesta pausa para fazer os pássaros voar, posso sentir a euforia da cura novamente se dissipar e a sensação de vazio e falta de forças voltar.
O câncer é um vampiro procurando nossos pescoços.
E eu, para seres com asas, quero somente olhos e energias para colocar meus mil tsurus a voar.